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Cultura Conversa

O senso comum e seus valores culturais

Com Rondilei Paixão

09/01/2020 11h17
Por: Redação O Diário Fonte: Diversas
O senso comum e seus valores culturais

Ao longo dos tempos o senso comum vem perdendo um pouco da sua identidade em alguns espaços no Brasil e do mundo.

Poucas pessoas sabem conceituar o que vem a ser senso comum. Em rápidas palavras, senso comum é o pensamento prático, não científico, identificado pelo sujeito ou região, tido como conhecimento válido e gerado por crenças, tradições e hábitos ligados diretamente a sua cultura. Logo, o senso comum está incorporado ao sujeito individual e/ou coletivo dentro de um vasto espaço de percepções características, cujas, suas idealizações são negadas por ideologias geradas pela ciência.

Com este conceito, é possível afirmar que a ciência causou epistemologia ao conhecimento oriundo do senso comum, porém, extraindo exatamente de lá a origem de alguns saberes que chamamos de conhecimentos científicos.

Um claro exemplo deste princípio é o parto normal. Muito antes da ciência existir e ser como atualmente é, mulheres denominadas como parteiras tradicionais (antes apenas parteiras) praticavam o que atualmente a ciência faz nos trabalhos de parto, porém sem os recursos tecnológicos contemporâneo. 

No que se refere às tradições, a cada ano que passa, vejo senso comum esvaindo-se e perdendo espaços, principalmente na zona urbana. Datas e festas tradicionais religiosas não têm mais o mesmo teor que se tinham há décadas atrás. Por exemplo, nos meses de dezembro era difícil ver uma casa sem os tradicionais pisca-piscas. Atualmente pode-se contar nos dedos as casas de um bairro que é decorada com esse objeto natalino.

Talvez algumas teorias explicativas, evasivas, porém razoáveis, poderiam responder o porquê dessa situação decadente em relação a tradições desse tipo. Arrisco a dizer que as gerações mais recentes não têm tanto apego a esse tipo de tradição como tinham as gerações mais antigas e conservadoras. Outra linha de pensamento parte do atual âmbito econômico dos sujeitos, fazendo com que suas prioridades se voltem à outros fins em virtude de, talvez, baixos recursos financeiros e alta demanda de gastos familiares, já que tudo requer gastos. 

O imediatismo e as necessidades unidas à ciência também ajudaram a esconder os valores do senso comum. Os chás e sumos, puros e oferecidos pela natureza, foram substituídos pela química dos fármacos. Por mais que o sujeito até prefira os chás naturais, a correria do dia a dia aponta sua cabeça para o medicamento de farmácia, pois já compra-se pronto.

No que tange as necessidades, a carência e obrigação do trabalho se tornam grandes vilões contra algumas tradições de senso comum. Há décadas atrás os sujeitos não exerciam atividades trabalhistas remuneradas aos sábado, domingos e feriados, principalmente nos oito feriados nacionais e nas datas nomeadas como feriados religiosos. Hoje, com a realidade do século XXI, a demanda do mercado de trabalho é grande e obriga a maioria dos brasileiros exercerem suas laborações empregatícias nos finais de semanas e feriados como outro dia qualquer, ofuscando automaticamente essa antiga tradição. 

Entra ano e sai ano e o senso comum, mesmo perdendo forças (principalmente na zona urbana), continua vivo e presente, dinamizando seu valor efetivo como primeiro saber humano; e queira ou não, contribuindo ocultamente com o avanço da ciência pela extração de alguns conhecimentos que são originados por ele, pois percebe-se que o saber do senso comum foi e é a introdução para alguns conhecimentos atualmente trazidos pela ciência. 

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