14 de maio de 1888, um dia após a abolição da escravatura no Brasil, “para onde ir? O que pensar e como sobreviver sem nenhuma condição em um continente desconhecido, distante da nossa terra, da nossa cultura e de tudo que é nosso?” Provavelmente esse foi um dos questionamentos retóricos mais pensados pelos “agora, ex-escravos”, após a abolição, visto que, teoricamente os “libertaram”, porém, os condicionaram a tentar a sobrevivência em meio à miséria e o preconceito causado pela própria escravidão.
Exatos 133 anos após a abolição, o que mudou? De certo modo, pouca coisa, pois atualmente, muitos brasileiros pobres e principalmente de origem afro, ainda vivem condicionados a sobreviverem em meio a pobreza dentro de um país socialmente injusto, onde o trabalhador labuta apenas para comer, beber e vestir, sem nenhuma expectativa de liberdade social que lhe proporcione melhorias de vida.
Acredito que as mães, dantes escravizadas, perguntavam-se “o que fazer com seus filhos, como plantar para colher, para dar a eles o que comer”, enquanto, homens, mulheres e crianças encontravam-se expostos a chuva e ao sol, ao calor e ao frio, à fome, à sede e a dor submetida, expressa pelas marcas físicas e psicológicas causadas pelos grilhões estampadas em seus corpos. A mesma questão é uma realidade ainda hoje, quando reportamo-nos às famílias que atualmente vivem a extrema pobreza, sem ter sequer de onde tirarem o sustento para suas crianças e uma tapagem descente que os abriguem, protegendo-os do sol, da chuva, do calor e do frio.
Atualmente, o que resta às raízes desse povo de passado sofrido e humilhante é a luta por seus direitos, inclusive de reparação, que na verdade, nem precisaria tê-los, pois deveria ser automático. E é inacreditável que ainda exista alguém que se oponha, defendendo a tese de que isso é besteira, assegurando a ideia de que o preconceito não existe e nunca existiu.
Aos que ideologicamente assim pensam, precisam ler e aprofundar na verdadeira história, para assim, extraírem uma base autêntica para reconstrução de seus conceitos.
*Texto escrito baseado no poema “Um dia depois”, de Maria Aparecida P. Botelho