A marca de 100 dias geralmente é motivo de comemoração em toda administração, uma espécie de balanço geralmente é apresentada a população como se fosse um extrato de intensões executadas neste primeiro período. Quando um governo vai bem, em outros tempos fora de pandemia, inclusive acontecem eventos para comemorar os feitos conquistados em pouco mais de um trimestre de um gestor a frente de um executivo.
Segundo especialistas, esse período costuma ser o suficiente para que o prefeito possa dar sinais de quais os rumos sua gestão vai seguir, austeridade e cortes, conhecimento detalhado da realidade do município, e mesmo que de forma tímida, avanços e entregas são realizadas, tudo para motivar e comprovar as boas intenções para a população da cidade.
Mas em Aracruz essa marca traz preocupação e muitas polêmicas nos primeiros 100 dias do governo da atual gestão municipal.
Dr. Coutinho (Cidadania) criou muitas expectativas na população, já que como bom médico atuou por mais de quarenta e cinco anos, sendo reconhecido pelos trabalhos prestados a toda comunidade. Mas daí a se tornar um bom gestor para um município está se tornando um problemão.
Das promessas não cumpridas se destacam algumas, como a criação de uma “Casa Azul”, que seria para tratar a saúde dos homens que sofrem com câncer de próstata no município, nos moldes da “Casa Rosa”, criada para dar atenção especial as mulheres. Segundo Coutinho a Casa seria entregue nos primeiros 90 dias como uma marca de seu governo e preocupação com a saúde. Nada foi feito neste sentido, e o projeto não saiu do discurso.
Outra medida anunciada durante o período eleitoral seria a redução do número de cargos comissionados na gestão, para economizar e valorizar a mão de obra do servidor efetivo, segundo apuramos, isso só não aconteceu, como hoje já há mais servidores comissionados nomeados do que na gestão anterior.
O número de secretários vindo de outras localidades foi pauta de muitas discursões na campanha, o médico dizia que em seu governo a prioridade seria montar um time se secretários de Aracruz conhecedores da realidade e necessidades do município. Hoje a equipe do prefeito conta com 18 secretarias, sendo pelo menos a metade composta por indicados não residentes no município.
Mas existem outras medidas que mexem diretamente com o dia a dia do cidadão que foram tomadas assim que se iniciou a nova gestão, como fechamento de várias Unidades Básicas de Saúde em horários mais cedo do que o normalmente praticado.
Criação de uma nova Secretaria com a finalidade de atender uma indicação política, sob o argumento de execução de atividades já existentes na Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão. (Neste caso com a benção dos vereadores).
E não para por aí, a lista de decisões e medidas polêmicas tomadas pelo prefeito em seus primeiros 100 dias de governo não é pequena.
1- * Criação de um decreto polêmico para permitir que Secretários e servidores do primeiro escalão possam usar combustível e os veículos da prefeitura para suas residências fora do município, a fim de economizarem seus recursos.
2- * Aumento sem explicação e sem passar pela Câmara no valor do contrato de repasse ao Hospital São Camilo de 119%, passando de R$ 12 milhões aproximadamente, para R$ 26 milhões, sem aumento algum da prestação de serviços.
3- * Descarte de seis das nove ambulâncias deixadas pela gestão anterior, e contratação emergencial no valor de R$ 1,3 milhões por apenas três ambulâncias.
4- * Ignorou o HPP da Barra do Riacho tão sonhado e entregue aos moradores no fim do ano passado, mas nunca utilizado, sem considerar a possibilidade de ajustar seu funcionamento, escolhendo centralizar todo o atendimento e pagando mais ao Hospital São Camilo para prestar o mesmo serviço.
Entregas
Não houve entrega alguma para a população neste período inicial dos 100 dias, mesmo de obras iniciadas na gestão anterior e com prazos próximos a vencer, não ocorreram e algumas inclusive foram paralisadas sendo objeto de questionamentos por vereadores na Câmara.
A prefeitura está funcionando como em modo automático, essa é a sensação e nada mudou a não ser os nomes e cargos nomeados para atender este ou aquele aliado.
A Câmara
Aqueles que foram eleitos para legislar e fiscalizar antes de tudo, amparados pela Constituição Federal de 1988, desde o início deram sinais de fraqueza e se reduziram a ser uma extensão da prefeitura. Nomeações, alinhamento para eleição da presidência da Casa, e subserviência absoluta aos projetos enviados pelo executivo. Este é o retrato, ao menos por hora, dos primeiros 100 dias da Câmara de Aracruz.
Alguns mais ousados, ensaiam uma ação mais independente, mas sem ressonância ainda em plenário. Em sua maioria os vereadores entendem que o trabalho se resume a fazer indicações ao executivo, como se isso bastasse aos cidadãos.
Decisões e medidas políticas mexem com os ânimos da população, e se há um lado bom na pandemia para a classe política de Aracruz, é o fato de estar proibido a participação de cidadãos nas sessões da Câmara de vereadores, isso tem facilitado a relação do executivo com o legislativo, que tem passado despercebido diante de temas que normalmente gerariam grandes debates e pressão popular.
Parlamentares com tempo de fala reduzido, sem direito a apartes, gera um falso clima de concordância, naquela que deveria ser a casa de debates e aprimoramento das propostas. Isso tudo de alguma forma favorece ao executivo.