Há algum tempo, nota-se a decadência de conteúdos ricos de textualidade e harmonia nas atuais músicas brasileiras, capazes de trazer reflexões literárias ou de qualquer natureza social que nos leva a conceituá-las como referências ligadas ao culturalismo eminente ou simbólico de uma sociedade. Mesmo assim, o apego populacional tem sido grande, muito maior do que se imagina, o que possivelmente mais assusta os grandes compositores das décadas passadas.
Segundo os portais de O Globo (2019) e Exame (2019), o mercado fonográfico brasileiro cresceu acima do esperado no ano 2018. Enquanto a média mundial foi de 9,7%, o Brasil cresceu em média 15,4% nesse mercado, ou seja, se o mercado teve esse reajuste percentual, automaticamente o “consumo” de músicas (via CDs, DVDs, internet entre outras mídias) também registrou acréscimo entre os brasileiros.
Com base nessas estatísticas, faço uma pergunta retórica que poderá levar o leitor a refletir ideologicamente sobre as diversidades musicais com e sem conceitos que se enquadram no culturalismo: o brasileiro analisa e discerne o que ouve?
Entendendo o culturalismo como um ramo antropológico e social que defende o conceito cêntrico e fundamental da cultura com soberania ligada aos sujeitos como seres humanos, noto que a maioria dos últimos hits músicas, não exibe letras que impulsionam o sujeito à sua cultura. E porque nos apegamos tão facilmente a tais novas composições cantadas a ponto de frearmos afazeres de nossos interesses para fixar tais cantilenas na cabeça?
Talvez falte ao brasileiro a percepção que o permita separar os “novos humores musicais” (que são breves, passageiros) das verdadeiras canções carregadas de essências e musicalidades culturais, que exercem função de mexer de fato com fatores sociais humanos. Por exemplo, quando cursamos o Ensino Médio ou faculdade, algumas disciplinas, como Literatura e História, trabalham pedagogicamente algumas letras de composições que remetem ao ser humano (passado e/ou presente), sempre com críticas sociais ou literárias, fazendo alusão nessa conformidade, a alguma ou mais especificidade coletiva ou individual do homem. Trazendo esses fatos para os contextos músicas contemporâneos, como trabalhar pedagogicamente essas composições na escola? Não vejo forma alguma de embutí-las em questões pedagógicas e em nenhuma outra área social como contexto de cultura libertária.
Não reprimo de maneira alguma o cantor e compositor, mas faço alerta aos próprios “clientes” ouvintes pela aceitação em massa de tamanha pobreza cultural presente nos atuais lançamentos, contendo pouco ou nenhum conteúdo relevantemente social, o que torna a essência poética da canção de péssimo atributo artístico, em muitas delas, acima da normalidade.